terça-feira, 16 de outubro de 2012

Novo currículo do Ensino Médio poderá ser inspirado no Enem

Formato atual do exame divide disciplinas em quatro grandes áreas
Após a divulgação dos resultados insuficientes das escolas de Ensino Médio na última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Ministério da Educação (MEC) planeja uma modernização do currículo, propondo a integração das diversas disciplinas em grandes áreas.

A inspiração deverá vir do próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que organiza as matrizes curriculares em quatro grandes grupos: linguagens, matemática, ciências humanas e da natureza. Essa é a divisão que segue a prova, ao contrário do modelo tradicional por disciplinas como química, português, matemática e biologia.

O debate não é novo: no ano passado, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do Ensino Médio que propõem uma flexibilização do formato atual. O diagnóstico é que o currículo do Ensino Médio é muito inchado — em média são 13 disciplinas — o que, na avaliação do secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari, prejudica a aprendizagem.

— O Enem é uma referência importante, mas não é o currículo, ele avalia o currículo. Mas ele traz novidades que têm sido bem assimiladas pelas escolas — diz o secretário.

De acordo com Callegari, a ideia é propor uma complementação às diretrizes aprovadas pelo CNE, organizando as diferentes disciplinas em grandes áreas.

— O que tem que ficar claro é que não estamos propondo a eliminação de disciplinas, mas a integração articulada dos componentes curriculares do Ensino Médio nas quatro áreas do conhecimento em vez do fracionamento que ocorre hoje — explica.

Na próxima semana, o ministro Aloizio Mercadante se reúne com os secretários de Educação com o objetivo de discutir os caminhos para articular a mudança. Uma providência já foi tomada para induzir essa modernização dos currículos. Segundo Callegari, a próxima compra de livros didáticos para o Ensino Médio dará prioridade a obras que estejam organizadas nesse formato. O edital já está sendo preparado.

O MEC tem um programa que distribui os livros para todas as escolas e a próxima remessa será para o ano letivo de 2015 — as obras são renovadas a cada três anos.

Para o secretário de Educação do Espírito Santo, Klinger Barbosa Alves, uma das explicações para os maus resultados da etapa em diferentes indicadores, além do Ideb, está na própria estrutura organizacional do Ensino Médio que se baseia na preparação para o vestibular e tem pouca atratividade para o projeto de vida do adolescente.

— A visão de que o Ensino Médio serve para formar pessoas para ingressar na universidade não se aplica à realidade de muitos. Os jovens têm necessidades econômicas e sociais diferentes. Existe uma pressão para que parte dos jovens ingresse no mercado de trabalho e aí o curso superior entra como uma segunda possibilidade — explica Alves, que é vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed).

O secretário do Espírito Santo, um dos Estados em que a nota do Ideb caiu de 2009 para 2011, defende um modelo de Ensino Médio que dialogue com as diferentes necessidades dos estudantes e inclua também a preparação para o mundo do trabalho, já que para muitos o ingresso na universidade pode não estar na lista de prioridades.

Para que a escola possa abranger essa formação diversificada — que inclua a aprendizagem dos componentes curriculares, a articulação com o mundo do trabalho e a formação cidadã —, Callegari defende que é indispensável a ampliação do número de horas que o estudante permanece na escola, caminhando para o modelo de tempo integral.

— Temos consciência de que os conteúdos e habilidades que os estudantes precisam desenvolver não cabem mais em um formato estreito de três ou quatro horas de aula por dia. É assim (com ensino em tempo integral) que os países com um bom nível de qualidade do ensino fazem — diz.

http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/vestibular/noticia/2012/08/novo-curriculo-do-ensino-medio-podera-ser-inspirado-no-enem-3856462.html

 

domingo, 7 de outubro de 2012

Ederson Granetto entrevista Sônia Penin, Professora da Faculdade de Educação, Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da USP, sobre currículo escolar no Brasil. Programa transmitido em 16/02/2011.

 

Ederson Granetto: - Uma noticia recente no jornais europeus sobre educação chamou a atenção o Ministro britânico de Educação, Michael Golve, propôs uma mudança nos métodos de educação atuais, locais, que buscam ensinar ao aluno a pensar mais do que transmitir conhecimentos, que seriam, enciclopédicos. O ministro quer reduzir de forma drástica o número de matérias obrigatórias e ensinar mais fatos aos alunos.

Currículo real, oculto, e prescrito

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Basicamente, o curículo é uma lista de tudo aquilo que uma escola pretende ensinar. Pode também conter informações mais precisas sobre como e quando vai fazê-lo e também sobre os processos de avaliação das aprendizagens. Geralmente, resume-se a uma relação de matérias, cada uma com seus conteúdos, apresentados na sequência na qual devem ser trabalhados com os alunos de cada série.
 
Os currículos evoluem ao longo do tempo e podem sofrer muitas alterações no espaço de algumas gerações. Matérias podem desaparecer, como o Latim. Outras podem ser criadas, como a famigerada Educação Moral e Cívica, nos anos da ditadura, ou a Educação Ambiental, mais recentemente. Novos conteúdos podem ser incorporados, seja por causa de evoluções da ciência acadêmica (como no caso do DNA em Biologia ou da teoria do Big-Bang em Ciências), seja por vontade de reformular os métodos de ensino (como no caso da fracassada experiência com a Matemática Moderna na escola fundamental ou do bem-sucedido uso da literatura infantil na aprendizagem da linguagem escrita).
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O currículo pode ser uma referência sobre o modo de ser da escola, especialmente quando apresenta inovações em seus conteúdos. Atualmente, essas inovações podem ser divididas em duas grandes categorias:
 
1 - Enriquecimento da lista básica de conteúdos ofertados: artes, música, informática, entre outras novas áreas, e conteúdos multidisciplinares (como ecologia, educação sexual, ética, etc.) podem começar a ser incluídos na lista do que a escola pretende oferecer aos alunos.
 
 
2 - Simplificação de conteúdos ("núcleo básico" ou "tronco comum") e tentativa de criar um "currículo vivo". Essa mudança vem da percepção de que, mais do que trabalhar conteúdos específicos, o importante na educação fundamental é adquirir algumas habilidades e competências básicas, como dominar a linguagem escrita e a linguagem matemática, etc. Diferentes conteúdos e situações podem ser aproveitados para desenvolver essas competências básicas. Conversar com alunos de outra escola, via Internet, é um exemplo de uma situação que pode surgir durante o ano e servir como excelente ponto de partida para trabalhar a linguagem escrita (produção de textos, revisão gramatical e ortográfica) ou os conhecimentos geográficos (como é o lugar onde vive a pessoa com quem estamos nos correspondendo?).
 
 Outro conceito importante é o de "currículo oculto", que inclui diversos valores (por exemplo: religião, preconceitos de cor e de classe, regras de comportamento, etc.) que a escola pode ensinar, mesmo sem mencioná-los em seu currículo.
 
Há também o currículo prescrito, que pode ser definido como um conjunto de decisões normativas que são produzidas nos gabinetes das secretarias federais, estaduais e municipais de educação. É um currículo totalmente distanciado do currículo real, pois não respeita a diversidade, e não é construído pelos que fazem a escola cotidianamente. 
 
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O currículo prescrito atribui à escola o papel de transmitir uma cultura com base na lógica da reprodução, um currículo igual para todo o território e para todos os alunos, construído para que o professor o execute da forma como veio estruturado.

Mesmo o currículo sendo prescrito, o professor através de sua interação deve construir, no dia-a-dia, novas alternativas curriculares para a sua prática docente.

Nos dias de hoje ainda temos escolas quem pensam que todos têm que ser iguais, onde a instituição escolar sempre se organizou a partir dos padrões a serem cumpridos por todos, com práticas de que a aprendizagem acontece no mesmo ritmo e no mesmo tempo, excluindo assim, aqueles que fogem a esse padrão, com classificações e seleções baseadas no modelo tradicional.
A escola se diz inclusiva, mais continua tratando os alunos que são por natureza diferentes uns do outros, como se todos fossem iguais, excluem aqueles que não se encaixam nos grupos sociais e culturais que a cultura escolar impõe. 
 
Há diversos mecanismos que reforçam as desigualdades socioculturais nos sistemas educacionais, um desses mecanismos é o livro didático.
 
Assim como o currículo prescrito que vem pronto para o professor executar, o livro didático também é assim. O professor precisa ver o livro didático como um apoio um norte e não algo que o torne refém dele.
 
O professor deve usar o livro didático como um recurso que irá auxiliá-lo em sua prática, proporcionando uma pedagogia emancipatória, de superação de uma cultura escolar excludente e de um pensar que passa pelo projeto curricular da escola.
 
Abaixo, um vídeo muito interessante que mostra como estruturar uma grade curricular atrativa para os alunos e que contribua para a aprendizagem:

E aí, professores? O que vocês pensam acerca do currículo escolar? Vamos fazer um debate? Deixem seus comentários!Em boa parte dos casos, é preciso reconhecer: a simples leitura do currículo não é suficiente para dar uma ideia de como funciona uma escola. Afinal de contas, existem grandes diferenças entre o currículo oficial e o que efetivamente se passa em sala de aula, que podemos chamar de "currículo real".